Vida de caseiro catireiro

Vida de Caseiro Catireiro Se o tempo tivesse freios, talvez o coração também tivesse menos pressa. A cidade não permite pausas. O despertador toca antes do sol nascer, o café é engolido entre notificações, e a janela mostra uma paisagem de concreto, buzinas, compromissos, correria. Mas meu sonho é com outro cenário. Na minha cabeça mora um pedacinho de terra, não no sentido geográfico, mas no emocional. Um lugar onde o dia começa com o canto dos pássaros e termina com o brilho das estrelas que ninguém fotografa. Lá, o celular perde sinal, mas a alma ganha sentido. Eu que trabalhei, conquistei. Posso dizer que tenho tudo. Exceto tempo. Por isso pago alguém para cuidar do rancho, do chão onde o silêncio é música e o tempo parece escorregar mais devagar. Observo de longe a vida que queria ter, vivendo a que preciso manter. E pergunta, como tantos já perguntaram em silêncio: por que trocamos paz por pressa, céu por tela, raízes por rotas? A verdade é que o caseiro, com suas mãos sujas de terra e sorriso limpo de preocupações, não tem um salário alto. Mas tem algo que poucos conseguem comprar; liberdade. E enquanto a cidade insiste em seus ruídos, ele segue trabalhando. Não por ambição, mas pela esperança de, um dia, viver como o caseiro vive, com menos coisas e mais vida. WOSLEY TOQUATO (2025).

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