"UM AMIGO ARTICULISTA"
ARTICULISTAS
João Eurípedes Sabino - 22/11/2013
Atrás
de uma bola...
“ATRÁS
DE UMA BOLA, VEM SEMPRE UMA CRIANÇA.” Alguém disse esta frase e nunca nos
esquecemos dela quando o quadro acontece.
Belo
entardecer de um domingo; sigo de carro numa avenida em velocidade compatível
com filas de veículos indo e vindo. De repente sou obrigado a parar na própria
faixa de tráfego. O único sinal que pude acionar foram as luzes de freio do meu
veículo. Atendi ao Art. 42 do Código de Trânsito Brasileiro.
Olhando
no retrovisor, constatei que atrás vinha um belo e suntuoso importado. Ao me
ver parado, o seu condutor entra pela direita, para bruscamente e solta um
brado, para não dizer “berro”: - Ô CARA, VOCÊ FICOU LOUCO? “CÊ” ME PARA NUM
LUGAR DESSE! QUER MORRER?
-
Não, amigo - lhe respondi. É que à nossa frente cruzou uma bola e atrás dela
vem correndo uma criança, você viu?
Silêncio
sepulcral...
Com
os filhos dentro do carro e a esposa ao lado, aquele motorista apoiou os
cotovelos no volante, baixou a cabeça e expressou-me o mais triste olhar. Ficou
mudo e me reconheceu. Não precisou dizer nada. Captei o seu pedido de perdão
mesclado com o arrependimento e a decepção consigo mesmo, já que somos amigos
há quatro décadas.
Tudo
ocorreu em fração de minuto.
Os
pais do menino, atônitos, retiraram-no ileso da pista junto com a sua bola.
Voltei-me ao amigo: - Tá desculpado, doutor (........), e parti.
Até
agora estou inculcado. Aquele belo utilitário japonês continuou estático na
pista, enquanto pude vê-lo pelo retrovisor. Será que o condutor, um respeitável
profissional liberal, fora pego de surpresa? A família lhe fez alguma cobrança?
De
uma coisa eu tenho absoluta certeza; os pensamentos - deficiências psicológicas
- que o incitaram a agir daquela forma, no momento exato, fugiram, deixando-o
“falando sozinho”. Tiraram-lhe o argumento, já que os fatos falaram mais alto.
Trânsito é isso, mas não deveria ser.
Eu, apesar de estar num carro nacional, saí dali em absoluta paz, pois
mereci um momento de ímpar grandeza. Experimentei a felicidade por ter evitado
talvez a morte.
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